domingo, 13 de novembro de 2016

-Despedida-

Hoje vou-me despedir de ti. Deixei de ter medo de caminhar em frente. Comecei a pensar mais em mim do que em ti. A amar-me mais a mim do que a ti. Enfim, hoje deixei-te para trás e comecei a viver. Sabes, não fazia mais sentido continuar a sofrer por alguém que não consegue sentir nada. Deixei de dormir enquanto tu tinhas sonhos lindos. Deixei de comer enquanto tu petiscavas por fora, e não era comida. Deixei de gostar da imagem que eu via no espelho quando a pessoa mais feia aqui eras tu. Então decidi despedir-me de ti. Fechei a porta. Larguei a tua mão. Pus um ponto final numa história que já à muito que tinha terminado. Fui forte, sozinha. Tive de ser eu, sem ti. Tu não tinhas coragem. Porque eu era aquilo que tu querias. Porque eu te alimentava o ego, eu dava-te carinho, eu dava-te amor. Ao contrário de ti...tanta fome que passei. 

Mas não, não vou nem quero desatar a falar mal de ti e a dizer que és um monstro e que me arrependo de todo o tempo que passamos juntos. Seria mentira. Fizeste-me feliz. Não tantas vezes como eu gostava, mas fizeste. Mudaste-me para melhor, tenho pena que tenha sido com as piores maneiras, mas mudaste. Obrigaste-me a ser uma verdadeira mulher, se bem que sinto que me roubaste um pouco da minha infância. Viveste comigo, unimos-nos num só, todos os dias era só tu e eu. Eu lutava com a vida por ti e tu dizias que fazias o mesmo. Não sei até que ponto isso é verdade. Aliás, esta relação não passou de uma mentira. Hoje despeço-me de ti sem ódio, mas com dúvidas. Não sei até que ponto o nosso amor não passou de uma ilusão na minha cabeça. Não sei se todas as palavras que me disseste ao ouvido no silêncio da nossa cama eram o que tu realmente sentias. Não sei se me foste fiel, se foste leal, companheiro, sincero... não sei meu querido. Gostava de poder dizer que acabou mas ao menos foi real. Mas hoje digo-te adeus e cheia de dúvidas no meu coração. 

Mas sabes, sinceramente prefiro estas dúvidas do que as certezas de que eu tenho razão. Sempre me mostraste que conseguias viver bem sem mim, excepto passados 30 dias. Aí voltavas e dizias que a tua vida sem mim não fazia sentido, e eu acreditava. Hoje pergunto-me se nesses 30 dias disseste que a tua vida não fazia sentido a outra pessoa, se nesses 30 dias te perdeste no corpo de outra mulher, se deste o que era meu a quem não merecia. Podiam ser boas miúdas, mas vá lá, quem estava a tua espera não era uma miúda, era uma mulher. Uma mulher cheia de sonhos. Era contigo que queria casar, que queria ter filhos, que queria passear na praia quando fôssemos velhinhos... pensava eu. Hoje sorrio enquanto penso nisso. Tudo ficou claro na minha cabeça. Não és tu que eu quero. Nunca foste. E só nestes últimos dias é que percebi que a nossa relação estava morta antes de começar. 

Então porque é que insisti?, não é?. Não sei. Estava cega por ti. Queria-te á força. Achava que eras o melhor para mim. Achava que não podia desperdiçar o tempo que tinha perdido contigo. Que o amor curava todas as feridas e que o importante era isso mesmo, amar. Hoje, agora, neste momento, penso na minha mãe. Toda a minha vida, desde pequenina, quando eu via uma relação amorosa desfeita mas cheia de amor eu dizia-lhe que não entendia, e ela respondia-me ''minha princesa, um dia vais perceber que ás vezes amar não chega''. Ela tem sempre razão. Sempre. Amar não chega. Amar devia ser o suficiente, e para mim era. Mas tu não me respondeste de volta. Era sempre eu a remar e tu parado á espera que eu fizesse tudo. Não deu, não chegou. E eu fiz, fiz tudo e fiz tanto. Não fui perfeita, mas todos os dias tentava e nunca, nunca era o suficiente. Acabei por me consumir, por me perder, por já não saber quem eu realmente era. 

Até hoje. Hoje vim aqui despedir-me de ti. Quero mais. Quero viver. Quero ser feliz. Quero continuar este processo de esquecimento. Já chega. De ti, de mim, de nós, de tempo perdido, de lágrimas, de palavras gastas, de olhares, de ofensas, de amor que nunca foi reciproco, de correntes que me prendem ao passado, de paredes que não me deixam ver o futuro, de incertezas, de falta de coragem para seguir em frente, de um coração magoado que eu tenho proibido de voltar a amar, de uma vida maravilhosa que me bateu á porta e que eu teimo em não a abrir. Já chega. Esta é a altura, este é o fim. Isto é o que de melhor eu estou a fazer por mim. Isto sou eu a dar a maior prova de amor a mim própria. Porque eu amo-me, sempre me amei. Amei-me por mim e por ti ao mesmo tempo. Sempre estive cheia de amor para dar a quem não sabia receber. Por isso hoje vou gastar a palavra amor contigo. Vou gastar esta palavra aqui porque nunca mas nunca mais te irei falar dela. Aliás, nunca mais quero falar contigo, nunca mais te quero ver, abraçar, sentir. Tu hoje morres aqui. E apesar de não ter dito nada de jeito, não sei porquê (ou até sei), este é o meu texto favorito. Porque é aqui que desapareces da minha vida. E um dia, quando te encontrar na rua, vais sorrir para mim porque tens saudades minhas, e eu vou sorrir de volta... mas porque vou estar feliz, feliz como nunca fui contigo a meu lado. 

Um dia vou caminhar nos meus sítios favoritos, mas não és tu que vais estar de mão dada comigo. Um dia vou apanhar o avião e vou viajar, mas não vai haver um bilhete para ti. Um dia vou ter uma aliança no dedo, mas não vai ter o teu nome gravado. Um dia vou casar com o homem da minha vida, e não és tu que vais estar na igreja. Um dia, vou ser mãe, mas o meu filho não vai ter o teu último nome. Um dia vou estar feliz, tu vais saber, e vais chorar. Porque nesse dia tu vais perceber que como eu te amei, nunca mais ninguém te conseguiu amar de igual maneira. 

Fim do último capitulo. Livro fechado. Arrumado na prateleira. Adeus.