Poderia escrever, poderia continuar a escrever. Mas depois
de tanto e ao mesmo tempo de tão pouco, nem as minhas palavras têm valor. O que
sinto já não se demonstra por sentimentos, mas sim por atitudes banais. A
velocidade a que ando na estrada, a maneira como me deito na almofada molhada,
a maneira como caminho em direcção ao nada. Podem dizer que sou boba, que não
sei viver, que estou a ser tola nesta altura da vida em que todos passam pelo
mesmo. Mas com todas as certezas eu digo, que 'todos' os outros não passaram
nem por metade, daquilo que o meu coração já passou. Nasci de maneira
diferente, nasci com um coração mais frágil que todos os outros e ao mesmo
tempo mais forte. Forte porque quando eu quero consigo curá-lo, frágil porque nem
sempre quero, e não querendo mata-me mais um bocadinho. Nasci também com pernas
diferentes, pernas essas que me conduzem a direcções que não quero frequentar,
mas eu sou assim. Tão grande e tão pequena ao mesmo tempo. Tenho tanta gente
mas muito poucos conseguem atingir o meu coração, mas os que atingem ficam com
ele para sempre. Porque as pessoas para mim não podem nem merecem ser
esquecidas, por mais asneiras que façam, tiveram sempre algum ponto positivo na
nossa vida. Podem ter errado, mas com certeza que também acertaram. E podem
chamar a isto desabafo, reflexão, o que quiserem. Isto sou eu. A minha maneira
de pensar distorcida do resto do mundo. Isto são planos infalíveis para tentar
viver com as permanentes ausências que possuem a minha vida. Porém, continuo
aqui, a sorrir. Porque os sorrisos irão ser sempre a máscara de uma alma
devastada. Volta para mim.